Meu arquivo foi apagado quando eu me alistei pela primeira vez. Ninguém sabe que eu nasci em ███████████████, ou que ███████ ██████████████ █████████ ██████ ██████████ ██████████████. Eu mal me lembro disso, graças aos eventos que tiraram parte da minha massa encefálica. Mas isso é uma outra história.
Depois que eu fui dispensado sem honras da Força, e comecei a me reconstruir do zero, aprendendo lentamente a fazer o que eu podia fazer, decidi que uma mudança de ares era necessária. Eu já cozinhava a ideia de trabalhar com resgate civil, mas ainda não conhecia tão bem o blackmarket de Harbingers, compensações, e grupos de elite que se matam diariamente para atender às demandas de um grupo restrito de pessoas e entidades que podem pagar pelos chamados contratos, ou empreitos.
Minha preocupação maior era resgate civil. E ████████████ ███████ ██████████████.
Bom, a lógica foi simples - se o seu trabalho é resgatar e ajudar civis, então vá para o lugar onde tem muitos civis. E, convenhamos, é garantido: estar em uma das três maiores cidades-estado do país é um jeito simples de estar cercado de centenas de milhares de civis por todos os lados, o tempo todo. Assim, minha bagagem chegou em Megacity 1, e por aqui ficou.
A vida de um mercenário é simples, se você parar para pensar.
Basta ser relativamente organizado com dinheiro e agendas, odiar burocratas, e manter seu crédito alto nas ruas. Eu aprendi isso com ████████████, na caserna, e trouxe para minha rotina diária. Não precisa ter um arsenal interminável, mas tem que saber fazer a cara de quem tem um arsenal interminável.
Arsenal é uma palavra importante aqui. Os contracheques que importam mesmo são os de trabalhos mais complexos - especialmente contratos. E são esses contracheques que movem as shell-corporations e identidades falsas que movem o seu dinheiro no mercado real, e fazem ele render lucros e dividendos que vão em parte se avolumando, e em parte preenchendo seu orçamento mensal de gastos.
Mas até fazer um volume razoável, você precisa investir internamente, na "lojinha". Ou seja, você tem que gastar com galpões em lugares que parecem abandonados, documentos falsos, veículos, galpões e veículos registrados em identidades falsas ou em laranjas, munição, e sempre - vou fazer um destaque importante aqui.... SEMPRE - invista generosamente num contador cinco estrelas. Seu objetivo é contratar o cara que seria candidato ao Nobel de contabilidade, se existisse um prêmio Nobel para a contabilidade.
O arsenal entra como um negócio paralelo. Se vc move várias armas legalmente, como eu, é bem mais fácil mover uma pequena quantidade ilegalmente, junto, para atender à uma clientela especial - como Harbingers, outros mercenários, seguranças de corporações, burocratas burros e coisas do tipo. Algumas pessoas podem questionar a validade moral disso, sendo que meu objetivo maior é o resgate de civis.
Sim, alguns dos meus clientes podem acabar vindo a ser autores de barbaridades que criam situações de necessidade de resgate civil. Mas há dois pontos importantes a serem observados, com relação a isso. Em primeiro lugar, eles vão comprar o armamento - se você não vender, outro vai vender. E em segundo lugar, quando você vende... Além de conseguir, de alguma forma, influenciar o nível de qualidade no armamento e munição disponíveis no "mercado alternativo", você passa a ter uma visibilidade excelente de quem são a maior parte dos clientes e atores desse meio, e qual é o nível de armamento, munição e investimento que eles estão acumulando...
██████████████ █████ ██████████████ ███████████████.
Eu sou fruto de ideias idiotas sendo testadas por burocratas imbecis, vagamente justificado em nome da segurança de um país.
Mas eu sobrevivi. Casos parecidos com o meu, que acabaram sete palmos abaixo da terra, estão na casa dos milhares. Dano colateral, causado por outras ideias igualmente idiotas sendo testadas por infinitos burocratas imbecis, em nome de estados e países.... esses, estão na casa dos centenas de milhares.
Eu odeio ideias idiotas.
Odeio mais ainda, burocratas imbecis.
A guerra acabou, pra mim. Não sou mais um soldado. Achei que quando voltasse pra casa, ia ter um pouco de paz. Mas em todo lugar que olho.... só vejo guerra. E sempre, como consequência, civis sofrendo. Civis morrendo. Gente cuja única implicação num conflito foi de estar no lugar errado, na hora errada. Gente cujo único erro foi de ser da mesma nacionalidade que um general idiota, ou estar vivendo tranquilamente a sua vida quando uma experiência deu errado ou um acidente qualquer desencadeou uma sequência de ideias idiotas que culminou na morte de milhares de inocentes.
Como em ██████████████. Como em ██████████████.
██████████████.
Então eu decidi que se eu puder ajudar, eu vou ajudar.
E eu posso.
██████████████ █████ ██████████████ ███████████████.
Quando eu me alistei, assinei um documento permitindo que as Forças fizessem o que bem entendessem comigo, meu corpo e minha mente. Jovens são idiotas e imaturos, não deveriam poder se alistar.
Enfim, fui bem treinado e afiado, como boa parte dos meus colegas de caserna.
Participei de algumas consideradas “experiências especiais”, fui analisado, estudado e observado como um bom rato de laboratório. Até o dia em que sofri um ferimento grave, em batalha.
Foi em ██████████, quase dez anos atrás.
Sofri uma quantidade de dano expressiva em parte do cérebro. Para as Forças, eu era um experimento danificado, não tinha mais utilidade nenhuma. Mal saí do hospital e fui dispensado.
O que eles não esperavam, e nem eu, e nem ninguém, foram os danos colaterais. Com o passar do tempo, e depois de um período terrível de cura que gerou a extinção de todos os meus bens, e alguns traumas, eu finalmente consegui começar a me recuperar. Tive que reaprender a andar, falar, comer, respirar. Tive que reaprender a fazer as coisas mais básicas, muitas vezes sem ajuda profissional.
Meu cérebro passou a funcionar de uma forma diferente. Por incrível que pareça, mais eficiente. Síndrome de Savant Adquirida, foi o nome que um dos especialistas deu. Minha fala ficou pra sempre prejudicada.... mas eu comecei a desenvolver conhecimentos e capacidades que nunca tive antes.
Lieutenant Connor ██████████: colega de caserna da época em que eu fazia parte das Forças. Ótimo senso de humor, péssimos hábitos alimentares, e uma canhota maquiavélica. Connor foi um dos poucos amigos que fiz ali, e o único que se importou quando eu me fodi. Ele acompanhou minha volta por cima, e foi sempre discreto e confiável – nunca me mencionou para seus superiores ou em qualquer canal oficial da Força. Continua servindo – sabiamente não permitiu nenhum tipo de experimento em seu corpo – e é um bom aliado, que evito “acionar”, pois não quero meter ele em encrencas. De vez em quando me procura para algum trabalho sujo.... e sempre me procura para uma cerveja e uma conversa amigável.
Miranda Medeia: eu tenho uma filha, por incrível que possa parecer. Ela tem 16 anos, e acha que o pai militar faleceu após uma longa batalha contra ferimentos adquiridos em batalha, quando era criança. É bastante encrenqueira, quando comparada à outras jovens de 16 que vivem a vidinha de classe-média em Megacity 1. Dá um orgulho danado saber que essa vidinha ridícula não conseguiu abafar o espírito dela.
Próspera Medeia: a bruxa progenitora de minha filha. Uma burocrata. Com ilusões de espionagem internacional. Pode parecer fruto do karma, mas você tem que ver a questão sob a minha perspectiva: é claro que eu não ia perder a oportunidade de fuder uma burocrata, mesmo que literalmente.
Os poucos arquivos que consegui recuperar sobre minha vida pregressa informam que ██████████████ █████ ██████████████, mas eu não acho que essas informações sejam confiáveis.
Um dos problemas com o dano que sofri no cérebro foi a perda irreparável de algumas memórias, alguns conhecimentos. Os conhecimentos eu consegui aos poucos recuperar, simplesmente reaprendendo – coisa que se tornou fácil em minha nova condição.
Mas não tem como reaprender memórias, e os danos relacionados foram consideráveis. Como eu já tinha tido a ficha apagada pelo fato de ser parte de experiências ultra-secretas, não consegui recuperar quase nada. E o alto comando decidiu que seria melhor dessa forma – tanto que tentaram apagar também algumas lembranças recentes que eu ainda consegui reter.
Connor me ajudou bastante nesse ponto, recuperando dados da minha filha e me colocando em contato com um especialista que ajudou no processo de retenção das poucas memórias que me restaram.
De vez em quando eu ainda tenho sonhos que imagino serem uma mistura de lembranças do passado – da minha infância, da minha família. Mas já desisti de tentar criar uma lógica por trás deles.
Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.
Não.
Minha filha não sabe que estou vivo. Sua mãe, apesar de muito bem conectada, também não faz ideia de que estou vivo, nem que eu acompanho de longe o dia-a-dia de ambas. Uma de minhas maiores preocupações é de que meu trabalho, e as decisões que estou tomando para chegar onde quero, não chegue a afetar a vida de ambas de qualquer forma.
É imperativo que nada que eu faça reverbere na vida delas, diretamente. Ou que a existência de ambas se torne uma arma para prováveis inimigos que eu venha a cultivar. ██████████████ █████ ██████████████ ███████████████.
Uma outra preocupação que tenho é a de que as Forças descubram que seu antigo experimento na verdade, aparentemente, deu certo – e está trabalhando ativamente, desenvolvendo suas próprias missões numa taxa de sucesso e de desenvolvimento muito maior do que já esteve, quando sob a tutela de suas equipes de pesquisa.
Esse conhecimento pode não apenas culminar na continuidade do programa de que fiz parte – cancelado após o excesso de insucessos – mas também colocar em jeopardia a vida de vários outros ratos de laboratório que sofreram tanto quanto eu... e em alguns casos, até mais.
Existem poucos sobreviventes do meu antigo programa. Provavelmente apenas seis ou sete pessoas. Mas são soldados de bem, que já sofreram o suficiente.
Meu arsenal, até o momento, é um dos meus bens mais preciosos.
Em primeiro lugar, ele permite que eu faça minhas incursões e trabalhos. É a ferramenta do meu ganha-pão. Em segundo lugar, é totalmente legal e documentado. Claro, há uma série de camadas e camadas de documentos falsos e identidades irregulares que permitiram toda a documentação necessária... mas mesmo assim, é muito bom poder andar livremente com uma .50 dentro do carro e não ser incomodado ou ameaçado pelas autoridades.
A cereja no topo, é a possibilidade de transformar o arsenal num segundo negócio, sempre que necessário. Não anda sendo o meu foco, é verdade, mas é um plano B e C cuja disponibilidade sempre deixa tudo mais suportável.
Eu tenho cerca de dez armas de pequeno porte espalhadas em diversos pontos estratégicos da cidade, que podem ser recuperadas em momentos de necessidade: três Glocks X43 Geração 5 equipadas com três pentes de 15 balas, mira laser e lanterna, duas Taurus GX4 Graphene com silenciadores, três Sig Sauer P365 com 4 pentes de balas, além de várias Heckler & Koch UMP de calibre .45 acompanhadas de coletes balísticos.
Além disso, tenho ████ ██████████ █ ████ ██████████████ ██ ██████████████.
Faço minha própria munição e agora estou começando a estudar com profundidade o mercado de impressoras 3D e suas possibilidades bélicas. Granadas também são itens que aprecio e mantenho em quantidade razoável, mas explosivos plásticos ainda não estão na minha sempre crescente lista de especialidades.
Eu não ando podendo reclamar muito. Consegui alguns gifts. Ando trabalhando bastante. Fiz alguns amigos de confiança.
Conheci uma moça. Temos algumas coisas em comum, uma química boa. Ela por enquanto trata isso apenas como uma questão prática, física – o que torna tudo muito mais simples.
Meu problema de fala foi resolvido magicamente – entenda por mágica uma quantidade pornográfica de dinheiro e a cobrança de um favor. Não há desafetos me procurando ativamente, embora ainda possua alguns adversários não-neutralizados.
Minha memória ainda é uma incógnita. O procedimento que corrigiu minha fala - tecnologia ainda em desenvolvimento, altamente experimental – aparentemente “desbloqueou” algumas memórias, que surgem de vez em quando em minha mente. Como se eu começasse a assistir um filme e depois de um tempo percebesse que já vi aquele filme antes mas não me recordava de imediato.
Junto com essas memórias, surgiu uma sensação ruim. Uma raiva, uma agressividade. A sensação de que fui enganado de alguma forma, de que fui desrespeitado, passado pra trás... Ainda não consegui rever nenhuma lembrança que esclareça essa sensação, mas ela tem sido constante e crescente.
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5h da manhã eu desligo o despertador, normalmente antes de ele tocar. A primeira providência é fazer e tomar um café bem forte, enquanto ouço as primeiras notícias do dia em algum podcast ou jornal.
Isso me dá o combustível necessário para começar os trabalhos do dia. Começando com 2 horas de exercícios físicos pesados seguindo um programa rígido que foi aperfeiçoado por mais de cinco anos de consistência e determinação.
Faço então uma pausa de meia hora de reflexão e meditação – que aprendi para controlar o nervosismo e as dificuldades enfrentadas após meu trauma craniano. Em sequência, 3 horas de trabalhos burocráticos que poucas pessoas sabem que fazem parte da rotina de alguém que vive no mundo de mercenários black ops: checar fóruns e identificar mensagens codificadas de parceiros de negócios, escrever relatórios, ler relatórios, se atualizar com relação às movimentações mais importantes do submundo do crime e da política, dentre outros.
Um almoço rápido, uma hora de intervalo, e retomo as atividades físicas com mais 3 horas de exercícios físicos e táticos, incluindo treinos com armas. Essa rotina sendo a regra apenas quando fora de períodos de trabalho, nos quais nunca há rotina.
Minha preparação ia levar entre uma e duas horas.
Primeiro eu teria de separar, conferir, testar e limpar cada item necessário para a missão. Normalmente eu levo uma mochila modular contendo tablet, explosivos básicos, munição extra, kit de primeiros socorros, equipamento mínimo de escalada e sobrevivência.
Escolheria então minhas armas primária e secundária. Novamente teria de separar, conferir, testar e limpar esse equipamento, garantir uma boa quantidade de munição. Uma roupa tática de boa qualidade, protetores...
Usualmente não levo capacete porque a única vez em que usei o equipamento, tive uma experiência que deixou a desejar. Se tiver que tentar ocultar as armas, ou fazer algum recon suave, coloco algumas roupas civis dentro da mochila com o equipamento.
Nos dias anteriores eu teria feito provavelmente apenas refeições leves – não é de bom tom ficar apertado durante missões. Nesses dias também é essencial estudar o intel disponível com tranquilidade, para assegurar que as melhores decisões serão tomadas.
No meu próximo aniversário, pretendo convidar meus novos amigos para uma festa num resort de luxo à beira da praia. Vou gastar sem pudor para tentar fornecer o máximo de conforto possível, com a diversidade de itens e amenidades que vá atender aos diversos e distintos gostos.
Neste dia pretendo também tentar “brincar de harbinger” e oferecer um trabalho cinematográfico para ser feito no local onde estivermos – afinal, a maior parte do nosso grupo ama o que faz, e só sabe fazer isso. Não sei se vou conseguir Gift Coins para usar como pagamento, mas talvez eu possa fazer a ponte entre um harbinger real e o time.
Eu não tenho muitos arrependimentos.
Sou muito prático para arrependimentos. Não tem como voltar no tempo, e ficar ruminando o que se fez de errado - isso não resolve nenhum problema. O importante é aprender a lição, e vida que segue. Mas existem alguns trabalhos que eu preferiria não ter aceito, não ter participado. Alguns alvos, eu preferiria não ter eliminado.
Nós que somos mercenários, se queremos ser bem vistos e requisitados, não podemos nos dar ao luxo de vacilar nesse quesito – mas mesmo assim, também não podemos perder a moralidade, a humanidade.
Desde que venho trabalhando com os gifts, praticamente metade dos contratos deixam algum gosto amargo, no fim das contas. O maior talvez tenha sido o que aconteceu em Nova Palestina.
Matei seguranças que não precisavam ter sido mortos, poderiam ter sido rendidos e presos. Matei inocentes que talvez ainda tivessem uma chance, por mais ínfima que pudesse existir. De vez em quando me pego pensando nesse dia.
Talvez isso também seja uma forma de arrependimento.
Não entendo muito bem a mecânica por trás dos gifts, mas me parece que os meus poderes sejam frutos do incidente que me causou essa grande cicatriz na cabeça, e me rendeu o status de “falecido” na fileiras militares.
Aparentemente meu cérebro se curou de forma que em alguns aspectos eu seja quase como um savant. No meu caso, em tudo relacionado a foco e concentração. Os treinamentos de tiro que eu faço constantemente começaram a render resultados consideravelmente melhores que antes, e em bem menos tempo.
Depois de algumas sessões do meu treinamento padrão, que eu faço há anos... é como se eu tivesse me tornado um sharpshooter de vocação. Após algumas sessões de treinamento físico.... me sinto muito mais forte e vigoroso. Ferimentos não me abalam da mesma forma.
Recentemente fiz algumas sessões de meditação profunda num nível que não conseguia alcançar antes. E depois dessas sessões... me sinto muito mais objetivo e centrado do que já senti em anos.
Claro, estou mantendo todos esses treinamentos para garantir que os efeitos sejam também duradouros, mas mesmo com a necessidade do meu input, o resultado tem sido muito mais satisfatório e prático do que já foi.
Em minha linha de trabalho as oportunidades de momentos para filosofia e grandes questionamentos ético-morais são numerosas – mas a necessidade de se manter o foco, e a frieza nas ações, também é essencial.
Eu mal me lembro quem eu sou – e qualquer característica religiosa que eu tinha não era impactante o suficiente em minha psiquê para fazer a diferença quando sobrevivi às experiências e tratamentos que alteraram minhas memórias, e também não fez nenhum tipo de diferença quando passei pelo tratamento experimental que começou a trazê-las de volta.
Pela minha experiência enquanto contractor, sei que existem várias e várias entidades e poderes das mais diversas origens. O sobrenatural está presente nas minhas experiências. Não é algo que eu trate com desrespeito, ou com o qual seja blasè – mas também não é algo no qual eu concentre minha atenção o tempo todo.
Eu acredito que há “powers to be”, sim... mas acho que estão ocupados demais com suas próprias coisas pra poder ficar tentando acompanhar e controlar o que se passa aqui no nosso mundinho.
Tudo que eu acredito que conheço é posto em questionamento o tempo todo.
Em primeiro lugar, porque minha memória não é confiável. Após o incidente e as experiências que levaram minha identidade a ser eliminada como “morto em ação” e a maior parte de minha memória te sido eliminada, sei que todos os dias posso ter problemas relacionados, e acabar tendo visões ou interpretar equivocadamente certos elementos...
Me treinei então a sempre questionar quando a realidade está sendo “boa demais” ou “perfeita demais”, e de sempre colocar minha visão pessoal e minhas crenças em cheque, para assegurar que não estou sendo manipulado pelas minhas memórias ruins, ou pelo menos garantir que não estou me manipulando, ou manipulando as pessoas que amo.
Assim, nunca tomo uma decisão muito rápida baseada em impressões, sempre levo em consideração a experiência e visão de pessoas que estão junto comigo, e sempre procuro tentar entender suas motivações, desejos, sonhos, aspirações.
Preciso garantir que estou sofrendo poucas influências negativas, e que as influências positivas permaneçam sempre saudáveis.
Temos um grupo razoavelmente grande e bastante heterogêneo que vêm se escondendo há tempos em Pedra Rachada:
- Moz
É graças à generosidade de Moz, da sua família, e do seu mentor, que temos um lar em Pedra Rachada. Prático, sincero, ele é a pessoa que chega mais perto do "honor amongst outlaws" que eu já conheci - um dos poucos em que posso confiar sem reservas.
- Error
Essa rebeldia excessiva desse moço é a única coisa que impede ele de ser um dos membros mais poderosos e efetivos do nosso grupo.
- Zapata
Se eu pudesse tirar o bom doutor dessa vida, e convencer ele a voltar para a uma rotina mais "civil", eu o faria. Ele tem um coração puro, e não deveria se misturar com gente como nós.
- Ravi
Muito difícil começar a confiar em alguém que é um ninja assassino mas se faz passar por zelador - mas depois que você começa a conviver com o cavalheiro, conhece-o um pouco mais, a confiança e camaradagem acontece tranquilamente.
- Butcher
Esse sujeito é uma contradição ambulante. Quer ser um herói, mas mantém o comportamento e ética de um bandido. Assassina pessoas a sangue frio, com as mãos nuas, como algum tipo de psicopata... Definitivamente não é de confiança, e não se comporta como tal.
- Bhaltazar
Coloquei esse rapaz em algumas encrencas, já.... e me arrependo. Só espero que ele não acabe ficando igual ao Butcher, à medida em que for ficando mais poderoso.
O quarto perfeito tem poucos móveis e distrações.
Uma cama, de solteiro, nem muito grande e nem muito pequena. Do tipo cama-box e colchão.
Colchão de molas ensadas individuais.
Preferencialmente, uma cama de viúvo, com espaço extra para poder relaxar tranquilamente.
Dois travesseiros, roupas de cama, um edredon de boa qualidade.
Um criado-mudo simples, com duas ou três gavetas para guardar pequenos objetos.
Na parede, uma peça de arte simples, mas inspiradora. De tamanho razoável, não uma impressão em A4 ou A3.
Um quadro de verdade, pintado por um artista desconhecido, preferencialmente que não seja de natureza morta.
Preferencialmente uma imagem da natureza que demonstre sua característica de vastidão, de sua força incontestável e perenidade, em contraste com a pequenez humana e sua efemeridade.